No frio de Nova Iorque dois homens tentam encontrar seu caminho.
Violência!
essa é a palavra que melhor define Nova Iorque, não só a violência criminosa,
mas p rincipalmente a violência no trato com as pessoas nas relações humanas, a
cidade predileta de alguns dos meus cineastas prediletos, é um lugar violento,
sujo e nada hospitalar, seu transito caótico, o barulho de buzinas, os toldos
cobrindo uns aos outros os arranha-céus imponentes, estalagmites desafiando os
deuses, Nova Iorque pulsa o ódio aos fracos, a pressão de se superar e o
sentimento de ser o maior, o melhor, um sentimento que é maior que um desejo,
que é mais que uma necessidade é uma obrigação, mas que vem como algo natural
como se a cidade tivesse nascido pra isso e com sua falta de jeito e total
despreocupação em ser simpática e calorosa obriga a todos que ousarem viver ali
a serem igualmente grandiosos, não a lugar no mundo mais atraente e mais cruel
que Nova Iorque.
Tudo
isso nos é obvio e comum, mas a 45 anos atrás Nova Iorque ainda enganava jovens
rapazes ingênuos vindos do interior do Texas, não que Joe Buck (Jon Voight) seja um tolo por
completo, seu objetivo na Big Apple é um só, enriquecer trabalhando como garoto
de programa de luxo para senhoras ricas, aqui pra nós, mesmo em 1969 essa era
uma ideia ruim, mas o cowboy é ingênuo e burro demais para perceber e passa por
uma serie de desventuras até por sorte - mas nem tanto - encontrar Enrico
Salvatore Rizzo (Dustin Hoffman), assim que bate os olhos em Joe o marginal
deficiente "Ratso" percebe uma chance de se dar bem, e não deixa a
oportunidade de se aproveitar do rapaz passar, ao perceber que foi usado Joe
tem uma leve melhora no seu estado de ingenuidade e passa a ficar um tanto mais
atento a cidade que resolveu chamar de sua.
Perdidos na Noite não é um filme para muitos,
afinal é uma daquelas historias em que desde o primeiro minuto você percebe que
tudo dará errado, mas la você fica para apreciar a degradação humana, mesmo
porque não existe lugar melhor para se desconstruir um homem do que as ruas poluídas
de Nova Iorque.
Durante quase toda a projeção Ratzo e Joe são os únicos
personagens em cena, já que do golpe de Ratzo acaba nascendo uma amizade com
tons um tanto homo eróticos, uma fantástica batalha de interpretações que
rendeu indicações ao Oscar de melhor ator a Voight e Hoffman, nesse que foi
apenas o quarto trabalho de Voight no cinema, alias a muito tempo não via um
bom filme seu e foi legal lembrar que aquele tiozinho com cara de antipático mais
lembrado por A Lenda do Tesouro Perdido e por ser pai de Angelina Jolie, foi ( e
quem sabe ainda é) um ótimo ator, capaz de convencer no papel de um completo
tapado metido a garanhão, do outro lado Hoffman, mais um que a tempos não faz
nada acima da media, nos faz lembrar porque ele é um dos maiores de todos os
tempos com seu malandro amargurado e castigado pela vida, alem deles a
excelentes tipos interpretados por John McGiver, Barnard Hughes, Brenda Vaccaro
e Sylvia Miles essa ultima indicada ao Oscar de Atriz Coadjuvante por sua
atuação de apenas 6 minutos, alias nenhum dos outros aparece por muito mais
tempo que isso e todos ilustram a violência e barbárie da alma de Nova Iorque.
John Schlesinger dirige o filme de uma maneira frenética
e ao mesmo tempo lenta o que da a película uma atmosfera particular, mas que é
magistralmente conduzida por ele, talvez até por trabalhar com um tema tão
comum a suas obras a Homossesualidade, de toda a forma valeu o tempo parado em
frente a tv, mesmo não se tornando um dos meus prediletos é um trabalho que
merece ser visto, mas salvo aviso, com um enredo denso e por vezes até
cansativo Perdidos na Noite não é para madrugadas impacientes e mesmo com
disposição não é tão simples gostar do filme e de seus personagens, mas
particularmente quando for a Nova Iorque algo me diz que me lembrarei com
carinho do cowboy da meia noite e seus fantasmas e de seu parceiro Rico "Ratzo"
e seus demônios.